Um resumo comentado do que foi lido, presenciado e sentido esse mês
Gosto de começar pelo começo. Então relembro como (contam) começou a ser “comemorado” o dia das mulheres no dia 8 de março. É uma história que remonta ao início do século 20, quando mulheres americanas e européias (ao que temos notícias) já reivindicavam direitos como trabalhadoras fabris e começavam a ter algum envolvimento político.
“Muitas dessas mulheres se engajaram em uma campanha dentro do movimento socialista para exigir melhores condições de trabalho — que eram ainda piores que as dos homens na época. A origem da data escolhida para celebrar as mulheres tem algumas explicações históricas. No Brasil, é comum relacioná-la ao incêndio ocorrido em Nova York no dia 25 de março de 1911 na Triangle Shirtwaist Company, que matou 146 trabalhadores — 125 mulheres e 21 homens (na maioria, judeus) — e trouxe à tona as más condições enfrentadas por mulheres na Revolução Industrial. No entanto, há registros anteriores a esse episódio que trazem referências à reivindicação de mulheres para que suas causas fossem incluídas nos movimentos de luta de trabalhadores. Leia na reportagem do www.bbcbrasil.com por que uma “linha do tempo” do Dia das Mulheres possivelmente começaria com a grande passeata realizada por mulheres em 26 de fevereiro de 1909, em Nova York.” (Matéria completa aqui)
Antes de seguirmos, faço questão de mencionar aqui um outro lado da história, bem menos falado ainda, que é o das mulheres negras, que enfrentam ainda a opressão de raça, o que as coloca em ainda maior vulnerabilidade: “de acordo com estudo recente do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (MADE), em todos os cenários analisados na pesquisa, o grupo de mulheres negras é o que apresenta as maiores taxas de pobreza e extrema pobreza.” Deixo aqui um convite da Nossa Causa a conhecermos Lélia Gonzalez, que explica tão bem essa interseccionalidade: “Feminismo Negro e Lélia Gonzalez”, por Nossa Causa.
Seguimos, então, com a nossa linha do tempo até os dias atuais e relembro o lançamento do Movimento A Força das Mulheres no Terceiro Setor, em março de 2021. O que era para ser apenas uma campanha para celebrar a data tomou uma proporção enorme, tamanha a relevância do tema e a aderência. As mulheres se identificaram com a causa e começaram a se aproximar, a pedir para participar. Lançamos o Manifesto no encerramento do ENATS (assista), criamos um Grupo de Trabalho gestor, fizemos encontros, lançamos pesquisa, participamos de podcast, criamos outro grupo mais amplo, conversamos, trocamos experiências e conhecimento, tomamos café e assinamos carta compromisso e não param de chegar mulheres incrivelmente fortes e poderosas para somar forças com a gente. Que emoção!
Esse ano sinto que o mês de março foi diferente dos anteriores. Senti mais empatia, mais consciência, mais seriedade ao abordar o tema. Estamos avançando. Grupos que antes não se mobilizavam para a causa começaram a entender a importância dela. Leia o que a presidente do Diário do Comércio, Adriana Muls, escreveu sobre o assunto e “Entenda a importância da reconciliação do feminino para o bem da humanidade”.
A causa da igualdade de gênero não é só uma pauta feminina. Os benefícios disso não atingem somente mulheres, mas toda uma sociedade. O nosso trabalho (de cuidado) está agora quantificado, equivale a 11% do PIB nacional! E quem paga essa conta? Nós mulheres, com nosso trabalho, suor e saúde. A quem interessa que ele seja considerado um trabalho feminino? Essa, para mim, é a discussão que dá início a quase todas as outras… você sabia que essa é uma das causas de o Terceiro Setor ser predominantemente feminino? Sim, o Terceiro Setor é quem cuida. Qualquer relação com salários abaixo da média de mercado e funções pouco valorizadas é mera coincidência?
Empresas já reconhecem o impacto positivo da liderança feminina e muito se fala sobre a liderança Shakti, que trata de uma maior consciência, equilíbrio e integração entre as forças femininas e masculinas que habitam em cada um de nós. Esse tema foi brilhantemente abordado pela Thaísa Bogoni no Café Consciente em homenagem ao mês das mulheres, em março deste ano, realizado pelo Movimento Capitalismo Consciente BH, na Associação Comercial de Minas. Sigamos ocupando espaços.
Bom, tanto tempo depois, tantos avanços (sim, isso é inegável), mas ainda tanto a ser feito. Nós mulheres ainda lutamos por direitos – por igualdade salarial, por dignidade menstrual, pela liberdade de escolha e tomada de decisões sobre nosso próprio corpo, direitos reprodutivos, por maior representatividade política e em cargos de liderança, pelo nosso direito de ir e vir sem sermos abusadas, sobrecarregadas, violentadas, estupradas, humilhadas. Estamos todas exaustas! Notícias como a da condenação do jogador Robinho a prisão são inéditas (sim, o básico, em 2024, ainda é exceção) e trazem esperança, ao mesmo tempo em que um estuprador condenado deposita mil euros e se livra da prisão (podendo ainda receber o valor de volta ao fim do processo), e voltamos a sensação – e triste realidade – de insegurança e impunidade, que reforça, valida e apoia uma cultura em que homens tem privilégios e o corpo da mulher tem preço.
Importante é focarmos na luta e não no luto, nos avanços e não nos retrocessos, para que tenhamos forças para seguir. E como eu disse no dia 8 e repito: “Simplesmente seja, o que achar que deve, o que quiser, do jeito que quiser, no tempo que quiser. Sejamos, mulheres! E sejamos unidas, pois só assim somos mais fortes.”
* Julia Caldas de Almeida é mãe solo da Ana Liz, de 9 anos. Bacharel em Relações Públicas (PUC Minas, 2009). Profissional registrada no CONRERP 3ª região #2813, foi RP destaque profissional 2023. Professional, Executive, Leader Coach e Analista Comportamental (IEGC, 2019). Certificada em PMD Pro (PM4NGOs, 2019). Participou do Programa de Desenvolvimento de Dirigentes / Pilares (FDC, 2021) e do Programa Hands on Compliance (FDC, 2021). É profissional associada a ABRAPS. Tem MBA em Gestão de Projetos (FGV, 2012) e é pós-graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global (PUCRS, 2023). Atua em Organizações de Desenvolvimento / da Sociedade Civil (OSC) desde 2008. Foi GP da Conspiração Mineira pela Educação (FUNDAMIG / ACMinas). Atualmente é superintendente executiva da FUNDAMIG (desde 2016 no cargo); membro da curadoria do Fórum Internacional de Voluntariado Transformador e Sustentabilidade (MV / FUNDAMIG); co-fundadora e membro do corpo consultivo do Núcleo de Altos Estudos em Voluntariado e Sustentabilidade – NAVE (MV / FUNDAMIG). Também, integrante do Comitê Executivo do COEP Minas e da Rede Mobilizadores COEP Brasil e do Movimento Minas 2032 – líder do GT 6 ODS no Terceiro Setor (DC / Instituto Orior). GP do Diagnóstico do Terceiro Setor MG (CAOTS-MPMG / FUNDAMIG). Co-idealizadora do Circuito Comunicação de Causas e do Movimento A Força das Mulheres no Terceiro Setor (Conectidea / FUNDAMIG). Líder da campanha #DoaMG (Dia de Doar – Minas Gerais) desde 2021, sendo co-idealizadora e RT do evento Conexão #DoaMG. RT do Encontro Nacional do Terceiro Setor – ENATS (FUNDAMIG / MPMG).
Leave A Comment