Opção de ter filhos precisa ser encarada como oportunidade de crescimento pessoal e profissional pelas companhias
Por Élida Ramirez
O mês de comemoração do Dia das Mães é uma oportunidade para um debate fundamental nos ambientes corporativos: a necessidade urgente da mudança de mentalidade de empresários e gestores sobre políticas afirmativas para mulheres, que incluam a maternidade como possibilidade no desenvolvimento da carreira feminina. Isso porque nem sempre o mercado reage bem à gravidez. E a carreira da mulher pode ficar comprometida.
Segundo o último estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em março de 2021, apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos que têm crianças de até três anos em casa estão empregadas. A maternidade negra, nesta mesma situação, representa uma taxa ainda menor: menos da metade está no mercado de trabalho, 49,7%.
Porém, não precisa ser assim. Especialistas explicam que o indivíduo na centralidade do negócio traz bem-estar individual, coletivo e lucro. Isso porque, ao contrário do que se pensava em um passado ainda muito presente, pessoas felizes e respeitadas produzem mais e melhor. E a maternidade é uma dessas possibilidades.
Para Kátia Raphael, diretora de Estratégia da Associação Brasileira de Recursos Humanos, ABRH-MG, CEO da Graphos Consultoria Empresarial e Executiva e mãe, quando desejada, a geração de um filho habilita a profissional para as adversidades, tornando-a mais flexível, com uma mentalidade fluida e ainda mais criativa, capaz de atuar de maneira múltipla. E isso aperfeiçoa o perfil laboral. Por esse motivo, muitas empresas têm investido em políticas afirmativas para as mulheres que integram a maternidade com parte de sua jornada profissional.
A reportagem especial pelo Dia do Idealista deste mês, celebrado em todos os dias de datas e meses coincidentes como hoje, 05/05, vai mostrar que todos ganham quando as mães têm oportunidades de construir suas carreiras criando filhos.
O Dia do Idealista é uma iniciativa do Movimento Minas 2032 – Pela Transformação Global, do DIÁRIO DO COMÉRCIO e Instituto Orior para fomentar a Agenda 2030, em parceria com o Idealist.org – organização internacional americana que criou a proposta desta data no mundo e fomenta a participação social neste dia e fora dele. Também é parceira da ideia a Federação Mineira de Fundações e Associações de Direito Privado (Fundamig).
A proposta é que mensalmente o DIÁRIO DO COMÉRCIO traga um conteúdo relacionado ao desenvolvimento sustentável que promova a discussão e a oportunidade de ação. É aí que entra o Botão de Agir, o instrumento conduz o leitor às oportunidades de ação relacionadas à cada matéria. No formato impresso, o acesso é via QRcode.
O leitor poderá interagir nesta reportagem com oportunidades de trabalho, qualificação, rede de apoio e empreendedorismo para as mães no mercado de trabalho em um ambiente fácil e amigável. Clique no QR code e comece já!
Mãe acolhida, profissional empoderada
A engenheira Gabriela Mattioli teve suas mais recentes promoções perto do nascimento das filhas Alice, de 3 anos, e Ester, de 4 meses. Mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), voltou da licença maternidade da primogênita assumindo o cargo de engenheira sênior.
No ano passado, participava de uma avaliação para a coordenação de um projeto de mineroduto, quando descobriu a segunda gravidez. Pensou que a promoção seria incompatível, porque o nascimento do bebê coincidiria com o início de operação de um grande projeto da área. Porém, foi incentivada pelo gestor, que mostrou que a gravidez não era um empecilho para a profissional e a promoveu.
“Minha área é predominantemente masculina. Depois da minha primeira filha, pensei que não estaria em igualdade para desenvolver minha carreira dentro da empresa. Depois, grávida, pensei que não poderia coordenar uma área com um grande projeto em execução. Eu me pergunto por que achei que seria tão incompatível progredir na carreira e ser mãe? Ter o reconhecimento profissional dentro da empresa, independentemente de ser mãe ou não, só reforça todo o trabalho que tem sido feito para um ambiente com oportunidades equânimes para homens e mulheres”, reforça.
Gabriela trabalha há 11 anos na mineradora Samarco, que tem políticas afirmativas para mulheres que incluem a maternidade há mais de 15 anos. Hoje, a licença parental é estendida para mulheres em 6 meses e em 20 dias para homens. A empresa criou, em sua sede em Belo Horizonte, um espaço para retirada de leite e geladeira de armazenamento – um lactário. Todo o ambiente segue os protocolos da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A iniciativa será ampliada para os complexos de Germano (MG) e Ubu (ES). Na companhia, toda funcionária tem direito ao reembolso do auxílio-creche após o retorno da licença-maternidade estendida (6 meses). Para crianças até 3 anos, o limite de reembolso é de R$ 1.420 e de R$ 850 para crianças entre 3 e 6 anos.
Atualmente, 17% dos cargos ocupados na Samarco são de mulheres e 59% deles são de mães. As líderes que têm filhos representam 72%. Comprometidos com as metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU, ODS, a empresa pretende chegar em 2030 com 30% de mulheres empregadas.
Para isso, realiza ações afirmativas no âmbito do Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão como o programa de Estágio Mulheres na Mineração, capacitação específica para elas nas comunidades onde a Samarco atua em Minas Gerais e no Espírito Santo e aceleração de carreira para as colaboradoras que já estão na empresa.
Para Vera Lúcia, gerente-geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Samarco, todas essas ações se convertem em uma mudança de mentalidade que precisa do envolvimento de toda a empresa para que sejam efetivas:
“Trabalhamos na Samarco com o letramento das lideranças, dos empregados e empregadas e de nós mesmos sob a perspectiva dos benefícios da conciliação saudável e possível das demandas do cuidado com os filhos, com as entregas ao trabalho, com a atenção a si mesma. Uma mãe acolhida é uma mulher inteira e uma profissional empoderada”, ressalta
Para Kátia Raphael, diretora da ABRH-MG, é fundamental para o desenvolvimento da economia sustentável mundial que esse movimento educativo seja urgente e amplificado em mais corporações.
“É prioridade que os gestores compreendam a naturalização da maternidade e que a flexibilização em termos de horário e eventuais compromissos com o filho impactam positivamente no crescimento do ecossistema empresarial. Essa mudança de mentalidade é a chave para a longevidade dos negócios”, defende.
Empreendedorismo é uma oportunidade
Muitas mães encontram no empreendedorismo uma alternativa de conciliar o cuidado com os filhos, carreira e sustento. De acordo com uma pesquisa feita pela Rede Mulher Empreendedora (RME), 75% das donas de negócio do País começaram a empreender depois de terem filhos.
Karen Louise e Milena Magalhães, CEO do site www.compredeumamae.com.br são exemplos de conquista de espaço com a maternidade.
Para aumentar a representatividade das mães no mercado, as empresárias criaram uma vitrine virtual que abriga 96 mães batalhadoras, mais de 2.000 produtos à venda e 104 serviços oferecidos. O ambiente oferece também capacitações com parceiros e entre as empreendedoras para que elas cresçam.
“Queremos fortalecer a força de trabalho das mães empreendedoras e vimos que essas profissionais dão um giro muito potente na economia. Profissionalismo e afeto”, comenta Karen.
A empreendedora e publicitária Márcia Machado, criadora do Projeto Amor de Mãe, conta que o projeto surgiu a partir de uma enquete feita em um grupo virtual de mesmo nome que ela administrava com 9 mil mães sobre o que elas faziam. O resultado foram 2.500 mulheres e mães empreendedoras.
“Eu queria que uma mãe comprasse de outra mãe. Se alguma fizesse limpeza de sofá e outra mãe estivesse precisando, que contratasse o serviço dessa mãe dentro grupo. Daí nasceu a loja colaborativa feita por essa rede materna do Brasil”.
Atualmente, Amor de Mãe tem seis lojas colaborativas em Belo Horizonte e duas no Rio de Janeiro e conta com mais de 28 mil participantes. Para fazer parte da loja colaborativa as empreendedoras são escolhidas por nicho de produtos. E empreendedoras sem filhos também podem participar.
“O empoderamento feminino vem de várias formas, da cultura, da autoestima, da autonomia financeira e esse é o nosso propósito. Meu desejo é que cada vez as mulheres participem mais e tenham sua independência e carreiras prósperas, colaborando com o desenvolvimento econômico do País”.
Agenda 2030
É universal, indivisível e integrada. Ela sintetiza as aspirações e integra as dimensões econômica, social e ambiental. Seu lema central: “Ninguém deixado para trás”, baseia-se em cinco princípios orientadores: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias (5Ps).
A Agenda se divide em 17 eixos de ação, ou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O tema da maternidade no ambiente de trabalho está relacionado aos ODS 3, ODS 4 e ODS 5. Veja a seguir:
ODS 3: Saúde e bem-estar – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos e em todas as idades;
ODS 4: Educação de qualidade – Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, além de promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos;
ODS 5: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
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